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A carne da sereia: mito, desejo e silêncio
Do folclore japonês às tradições europeias, a carne da sereia simboliza mais do que imortalidade: revela medos e fantasias sobre o corpo feminino, sua voz e sua boca. Entre interditos religiosos, mitos de poder e a obsessão humana por transcendência, a figura da sereia se torna ameaça e desejo — uma mulher que não se deixa digerir nem calar.

O autor conta como a beleza da vida só se revelou após um trauma: sobreviver a um transplante abriu espaço para ver o belo, mas trouxe junto o medo constante da perda e a urgência de criar um legado.

O mito da sereia revela a força de existir mesmo sem voz. Mais que um conto de amor, é uma metáfora sobre corpos dissidentes e invisíveis, que desafiam as normas simplesmente por estarem presentes.

O Brasil abriga a maior concentração de povos isolados do mundo, com mais de 110 registros. Eles sabem da nossa existência — ouvem aviões, veem rastros na floresta — mas escolhem permanecer à parte. Esse isolamento não é atraso ou ignorância: é resistência e sobrevivência diante de séculos de violência, doenças e espoliação causados pelo contato com a sociedade envolvente.
Apesar disso, insistimos em transformá-los em curiosidade científica, mito ou ameaça, como se fossem relíquias ou lendas vivas. O fascínio pelo desconhecido revela mais sobre nossa necessidade de controlar e expor do que sobre eles próprios. O verdadeiro risco não está na floresta, mas no homem que invade seus territórios.
A Funai e outras frentes de proteção tentam equilibrar vigilância e respeito, cientes de que o contato quase sempre resulta em destruição cultural e física. Proteger os povos isolados significa reconhecer sua soberania e seu direito de existir em silêncio, livres das mazelas do mundo exterior.
Talvez o enigma não esteja em suas aldeias ocultas, mas em nossa incapacidade de aceitar que alguém escolha, consciente e livremente, permanecer invisível.

A Souedo lança sua primeira coleção, “Criptídeos”, trazendo a sereia como figura central — um símbolo que atravessa desejo, deformação e silenciamento histórico. Inspirada pelo filme Mermaid in the Manhole (1988), a marca provoca reflexões sobre o corpo feminino, a estética colonial e o apagamento simbólico dos povos originários. Com narrativa profunda e estética crítica, a Souedo ressignifica mitos como a sereia, conectando moda, arte e ancestralidade amazônica. Uma coleção que não apenas veste, mas também questiona e revela.

O texto reflete sobre a inveja como um sentimento profundamente humano e inevitável. Afirma que ela não é apenas uma emoção oculta, mas hoje se tornou pública e performática, especialmente nas redes sociais, onde se expõe o desejo de ter, ser e parecer.
Explora também como a inveja foi um motor histórico da moda: a burguesia imitou a aristocracia, gerando um ciclo de criação, massificação e abandono para manter a distinção social — um mecanismo que persiste até hoje, com o consumo como forma de sinalizar pertencimento e diferenciação.
O texto ainda aborda uma forma mais íntima de inveja: a inveja de nós mesmos, de versões passadas idealizadas. Para quem cria, esse sentimento pode ser perigoso, pois leva à repetição vazia ou ao clichê. Contudo, ele também é fértil, pois impulsiona a superar o que já se fez.
Por fim, reconhece que marcas (especialmente novas) precisam repetir símbolos para se firmar, mas alerta para o risco de se tornarem previsíveis. Conclui que inveja, nostalgia e repetição são expressões do mesmo desejo: permanecer, ser visto, ser aceito — e que é essa tensão que nos move a continuar criando.


Na Souedo, criar não é apenas desenhar roupas: é um ato de escuta e canalização. Cada coleção nasce como um ritual, onde o criador se torna um médium entre o visível e o invisível, entre o agora e o que ainda pulsa no ar. Assim como artistas e mestres de outras épocas, traduzimos emoções, intuições e o espírito do tempo em peças que vestem não apenas o corpo, mas também a alma do mundo. Inspirados por figuras como Jane Birkin, Christo e Clarice Lispector, vemos o vestir como um gesto de revelação, cuidado e presença. Nossas roupas são antologias vestíveis, construídas a partir de vozes, silêncios e fragmentos de um universo que nos atravessa.